O Televisor
De Jaime Rocha
Encenação e dramaturgia Paulo Campos dos Reis
Estreou em 2001
nas festas da cidade de Agualva-Cacém
De Jaime Rocha
Encenação e dramaturgia Paulo Campos dos Reis
Estreou em 2001
nas festas da cidade de Agualva-Cacém
[SOBRE O ESPETÁCULO]
Material eléctrico
Há dias em que os objectos dão uma volta ao universo. Caem-nos em cima como se trouxessem uma trovoada seca. Iluminam-nos, obrigam-nos a descobrir ainda mais o lado oculto das palavras.
Um homem de negro passa com uma caixa. Imaginamos que leva, por exemplo, uma dúzia de melões ou material eléctrico para uma obra.
Mas não, o seu ar indica que procura uma zona de água, um sítio onde possa esconder os pensamentos, Não sabe exactamente o terreno que pisa, desconhece até o modo como os outros seres se comportam face a uma agressão interna.
Talvez fuja das imagens ou se esconda somente de um assassino pago pelas cadeias de televisão.
O seu rosto deixou de existir, a sua pele tornou-se de plástico. Já não é carne aquilo que sente no corpo, mas uma ameaça cheia de fios, de tubos, de câmaras.
Depois o homem pousa a caixa e nasce um monstro em seu lugar, um mancebo com a vida inteira à sua frente. Ele é o seu próprio carrasco, mas a morte tem outros desígnios e não é a ele que a foice má deseja levar nos seus braços. Quer é o pai que é o deus da casa, a chave dos armários, a prateleira dos livros. Não a mãe, que é o chão sagrado, a escrava. O homem de negro não entende o que se passa. Não entende o sangue, nem as facas. À sua volta, no seu pequeno mundo, apenas existe uma força que o comanda, uma besta, um televisor.
Jaime Rocha
Lisboa, Maio, 2001
O Televisor foi apresentado em duas sessões nas comemorações das Festas da Cidade de Agualva-Cacém, na presença do autor.
Há dias em que os objectos dão uma volta ao universo. Caem-nos em cima como se trouxessem uma trovoada seca. Iluminam-nos, obrigam-nos a descobrir ainda mais o lado oculto das palavras.
Um homem de negro passa com uma caixa. Imaginamos que leva, por exemplo, uma dúzia de melões ou material eléctrico para uma obra.
Mas não, o seu ar indica que procura uma zona de água, um sítio onde possa esconder os pensamentos, Não sabe exactamente o terreno que pisa, desconhece até o modo como os outros seres se comportam face a uma agressão interna.
Talvez fuja das imagens ou se esconda somente de um assassino pago pelas cadeias de televisão.
O seu rosto deixou de existir, a sua pele tornou-se de plástico. Já não é carne aquilo que sente no corpo, mas uma ameaça cheia de fios, de tubos, de câmaras.
Depois o homem pousa a caixa e nasce um monstro em seu lugar, um mancebo com a vida inteira à sua frente. Ele é o seu próprio carrasco, mas a morte tem outros desígnios e não é a ele que a foice má deseja levar nos seus braços. Quer é o pai que é o deus da casa, a chave dos armários, a prateleira dos livros. Não a mãe, que é o chão sagrado, a escrava. O homem de negro não entende o que se passa. Não entende o sangue, nem as facas. À sua volta, no seu pequeno mundo, apenas existe uma força que o comanda, uma besta, um televisor.
Jaime Rocha
Lisboa, Maio, 2001
O Televisor foi apresentado em duas sessões nas comemorações das Festas da Cidade de Agualva-Cacém, na presença do autor.
[FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA]
Texto Jaime Rocha | Encenação e dramaturgia Paulo Campos dos Reis | Movimento Carla Sampaio | Interpretação Clara Marchana, Paulo Campos dos Reis, Paulo Cintrão e Pedro Alves | Produção Ana Pinto (Associação Rostos Cobertos)