MARIDOS
criação de Pedro Alves
a partir do filme homónimo de John Cassavetes
ESTREOU 11 NOVEMBRO 2021
no AMAS – Auditório Municipal António Silva
criação de Pedro Alves
a partir do filme homónimo de John Cassavetes
ESTREOU 11 NOVEMBRO 2021
no AMAS – Auditório Municipal António Silva
Não perca a oportunidade de ver o espetáculo "MARIDOS" no site da RTP Palco.
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Este espetáculo tem um epílogo que pode descarregar, em baixo.
epílogo_-_maridos.pdf |
[Sinopse]
No dia 21 de setembro de 1970, no programa de televisão “The Dick Cavett Show”, emitido na norte-americana ABC, o anfitrião Dick Cavett recebeu no estúdio os três atores de “Husbands”, com o objetivo de promover o filme realizado por John Cassavetes. Os três convidados - o próprio Cassavetes, Peter Falk e Ben Gazzara - pareciam estar altamente embriagados e, durante 35 minutos, fumaram, rebolaram no chão, dançaram de modo absurdo, beijaram o apresentador, gritaram, initerruptamente, uns com os outros e com o público, e, basicamente, atormentaram Cavett, cujas perguntas planeavam ignorar, levando-o mesmo a abandonar o décor. Este acabaria mesmo por declarar que tinha sido uma das noites mais interessantes da sua vida. Rapidamente, o programa transformar-se-ia num espetáculo caótico, com os convidados a lutarem em cima do tapete do cenário, interrompido, pontualmente, por anúncios, cuja artificialidade embaraçosa contrastava, de forma gritante, com a vitalidade surpreendente daquele trio.
Apesar da teatralidade com que alguns catalogaram esta aparição televisiva dos protagonistas do mais recente filme de Cassavetes, esta entrevista revelaria alguns momentos bastante elucidativos, tal como quando Peter Falk questiona a plateia sobre a diferença entre sentimento e sentimentalismo – na sua opinião, “Husbands” era um retrato pouco sentimentalista de homens à luta com os seus sentimentos. De facto, a morte de um amigo faz mergulhar as três personagens do filme, os suburbanos de meia-idade Gus (Cassavetes), Archie (Falk) e Harry (Gazzara), num pântano de ansiedades e dúvidas existencialistas, cada vez mais preocupados com a degradação dos seus corpos e da sua felicidade. Afogam as mágoas em bebida, fumo, sexo, no jogo, a tentar (re)encenar uma juventude que já não poderão (re)viver. Depois de uma acesa discussão com a mulher e a sogra, Harry decide partir para Londres. Encorajados por este plano arrojado, os outros dois seguem-no para longe do lar e das responsabilidades domésticas e profissionais que começaram a detestar. Numa das cenas mais conhecidas do filme, o trio encontra-se no meio de um grupo de homens e mulheres, num bar, alegremente a cantar e a beber. A certa altura, uma mulher entoa uma canção numa performance pouco entusiasmante o que leva os três amigos a pedir-lhe, incessantemente, que repita, que recomece a sua atuação. “Do coração”, pede-lhe Harry/Gazzara. Poderia ser esta a chave para o cinema de Cassavetes: a captação de gestos humanos que deveriam emanar das inconsistências do coração.
O espetáculo estreou a 11 de novembro de 2021 AMAS - Auditório Municipal António Silva, Agualva-Cacém, sendo também apresentado nos dias 12 e 13.
Apesar da teatralidade com que alguns catalogaram esta aparição televisiva dos protagonistas do mais recente filme de Cassavetes, esta entrevista revelaria alguns momentos bastante elucidativos, tal como quando Peter Falk questiona a plateia sobre a diferença entre sentimento e sentimentalismo – na sua opinião, “Husbands” era um retrato pouco sentimentalista de homens à luta com os seus sentimentos. De facto, a morte de um amigo faz mergulhar as três personagens do filme, os suburbanos de meia-idade Gus (Cassavetes), Archie (Falk) e Harry (Gazzara), num pântano de ansiedades e dúvidas existencialistas, cada vez mais preocupados com a degradação dos seus corpos e da sua felicidade. Afogam as mágoas em bebida, fumo, sexo, no jogo, a tentar (re)encenar uma juventude que já não poderão (re)viver. Depois de uma acesa discussão com a mulher e a sogra, Harry decide partir para Londres. Encorajados por este plano arrojado, os outros dois seguem-no para longe do lar e das responsabilidades domésticas e profissionais que começaram a detestar. Numa das cenas mais conhecidas do filme, o trio encontra-se no meio de um grupo de homens e mulheres, num bar, alegremente a cantar e a beber. A certa altura, uma mulher entoa uma canção numa performance pouco entusiasmante o que leva os três amigos a pedir-lhe, incessantemente, que repita, que recomece a sua atuação. “Do coração”, pede-lhe Harry/Gazzara. Poderia ser esta a chave para o cinema de Cassavetes: a captação de gestos humanos que deveriam emanar das inconsistências do coração.
O espetáculo estreou a 11 de novembro de 2021 AMAS - Auditório Municipal António Silva, Agualva-Cacém, sendo também apresentado nos dias 12 e 13.
[SOBRE O ESPETÁCULO]
É a partir deste filme - mais inspirados pelo mapeamento do processo criativo de Cassavetes, pelos ecos que a sua obra produziu e os diálogos que poderá estabelecer com a atualidade, do que pelo argumento de “Husbands” - e desse estranho evento televisivo que nos propomos a construir um espetáculo interessado na dissecação desses instantes em que os corpos se encontram, no cinema e nas artes performativas, assente num terreno fluído onde as fronteiras que tenderiam a separar a vida da arte, a realidade da ficção, o teatro do cinema, são, claramente, desafiadas.
Diríamos que a Cassavetes talvez lhe interessasse mais a captura desses momentos em que ocorre o encontro entre corpos. Talvez por esse motivo tenham ganho um estatuto quase lendário os processos criativos dos seus filmes. Dizia-se que o realizador norte-americano perdia horas, dias, semanas inteiras a improvisar com os atores/atrizes, para que as atitudes destes fossem mais livres, espontâneas, inesperadas, não mecanizadas, e para que a sua gestualidade se distanciasse da representação, nos limites entre a ficção e a realidade. Deste modo, os corpos encontravam-se no devir, impulsionados por inúmeras tensões e (re)ações. Se, por um lado, se tratava do corpo do próprio performer, por outro lado, estávamos também perante um corpo sujeito às múltiplas interferências do momento.
Interessar-nos-á trabalhar em torno da análise dos diferentes estados gerados na corporalidade dos atores, apresentando a materialidade dos corpos, independente de qualquer psicologismo ou representações a ele associado, assumindo o gestus não como um elemento que contribui para a dramaturgia de uma determinada obra, mas antes como uma dramaturgia per se, entendendo o corpo em cena como matéria afetiva, constantemente modificada pelos afetos que sucedem no aqui-agora teatral, potenciada pela utilização em palco de certas particularidades da arte cinematográfica, tais como os close-ups, o raccord ou o campo e o contracampo. O recurso às técnicas do cinema – a principal será a projeção de imagens em vários suportes, por vezes, em simultâneo - permitirá não apenas multiplicar camadas de espaço e tempo cénico, como promover o encontro dos performers com uma composição mais microscópica da sua performance, graças à presença em palco de câmaras de filmar, projetores de vídeo e monitores, possibilitando exercer diferentes modos de controlo sobre o discurso proposto pela obra, como também ampliá-lo.
Girando em torno da pergunta “O que pode um corpo?” e tendo como base teorias avançadas por Gilles Deleuze, Jacques Rancière, Josette Féral, Erika Fischer-Lichte, Ana Pais, Hans Ulrich Gumbrecht, Judith Butler, entre outros, procuraremos refletir sobre as inúmeras possibilidades de produção de presença, valorizando antes a materialidade dos corpos, em detrimento da sua representação.
Diríamos que a Cassavetes talvez lhe interessasse mais a captura desses momentos em que ocorre o encontro entre corpos. Talvez por esse motivo tenham ganho um estatuto quase lendário os processos criativos dos seus filmes. Dizia-se que o realizador norte-americano perdia horas, dias, semanas inteiras a improvisar com os atores/atrizes, para que as atitudes destes fossem mais livres, espontâneas, inesperadas, não mecanizadas, e para que a sua gestualidade se distanciasse da representação, nos limites entre a ficção e a realidade. Deste modo, os corpos encontravam-se no devir, impulsionados por inúmeras tensões e (re)ações. Se, por um lado, se tratava do corpo do próprio performer, por outro lado, estávamos também perante um corpo sujeito às múltiplas interferências do momento.
Interessar-nos-á trabalhar em torno da análise dos diferentes estados gerados na corporalidade dos atores, apresentando a materialidade dos corpos, independente de qualquer psicologismo ou representações a ele associado, assumindo o gestus não como um elemento que contribui para a dramaturgia de uma determinada obra, mas antes como uma dramaturgia per se, entendendo o corpo em cena como matéria afetiva, constantemente modificada pelos afetos que sucedem no aqui-agora teatral, potenciada pela utilização em palco de certas particularidades da arte cinematográfica, tais como os close-ups, o raccord ou o campo e o contracampo. O recurso às técnicas do cinema – a principal será a projeção de imagens em vários suportes, por vezes, em simultâneo - permitirá não apenas multiplicar camadas de espaço e tempo cénico, como promover o encontro dos performers com uma composição mais microscópica da sua performance, graças à presença em palco de câmaras de filmar, projetores de vídeo e monitores, possibilitando exercer diferentes modos de controlo sobre o discurso proposto pela obra, como também ampliá-lo.
Girando em torno da pergunta “O que pode um corpo?” e tendo como base teorias avançadas por Gilles Deleuze, Jacques Rancière, Josette Féral, Erika Fischer-Lichte, Ana Pais, Hans Ulrich Gumbrecht, Judith Butler, entre outros, procuraremos refletir sobre as inúmeras possibilidades de produção de presença, valorizando antes a materialidade dos corpos, em detrimento da sua representação.
[FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA]
Criação Pedro Alves | Interpretação Leonor Cabral, Joana Cotrim e Carolina Figueiredo | Conceção de vídeo e realização Ricardo Reis | Direção técnica e desenho de luz Carlos Arroja | Cenografia Pedro Silva | Figurinos Helena Guerreiro | Operação de luz e som Diogo Graça | Operação de vídeo em direto Marco Lopes (Show Ventura) | Ilustração Alex Gozblau | Direção de produção Inês Oliveira | Assistência de encenação Milene Fialho | Produção executiva e fotografia Catarina Lobo | Produção teatromosca | Apoios União das Freguesias do Cacém e S. Marcos, Junta de Freguesia de Agualva e Mira Sintra, Câmara Municipal de Setúbal, Europalco, Rodalgés, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Centro de Estudos de Teatro, Entregarfadas, Burger and Company, Cabicom, Shopping Cacém e 5àSec Rio de Mouro| Rádio oficial Antena 1 | Apoio à comunicação Antena 2, Jornal de Sintra, Correio de Sintra | O teatromosca é uma estrutura financianda pela Câmara Municipal de Sintra, Fundação Cultursintra e República Portuguesa – Ministério da Cultura/Direção-Geral das Artes
Duração aproximada | 120 minutos
Classificação etária | M16 anos
Duração aproximada | 120 minutos
Classificação etária | M16 anos
[DIGRESSÃO...]
DeVIR CAPa (Faro), 19 novembro 2021
DeVIR CAPa (Faro), 28 e 29 maio 2022
Transmissão em direto na RTP Palco, 1 junho 2022
AMAS (Agualva-Cacém), 2, 3, 4 junho 2022
FemArt Festival (Kosovo), 18 junho 2022
DeVIR CAPa (Faro), 28 e 29 maio 2022
Transmissão em direto na RTP Palco, 1 junho 2022
AMAS (Agualva-Cacém), 2, 3, 4 junho 2022
FemArt Festival (Kosovo), 18 junho 2022